domingo, 31 de maio de 2015

O sonho do sheik Zayed: Emirados Árabes Unidos - 2015

Transformar o deserto em um jardim, dizem ter sido um dos sonhos do sheik Zayed.




O que chama de imediato a atenção são as imensas usinas de dessalinização, onde eles preparam a água do mar para consumo. Regam as plantas com o auxilio de quilometros de mangueiras que ficam gotejando água para aguar o desejado verde. Perguntei-me se a transformação não seria muito radical, e é. O impacto sobre o meio ambiente foi tamanho que muitos projetos de ilhas artificiais forma interditados e atualmente a ONU está de olho neles. Morreu peixe, morreu coral, desapareceu bicho, mudou clima, alterou até a direção de correntes marítimas. Sheik Zayed, seu sonho sai caro para o planeta!



O outro sonho do sheik é a Mesquita, a grande mesquita branca, que à noite fica iluminada com uma suave luz azulada. Faraônica, um luxo.



Para nós, mulheres a entrada só é permitida usando abaya e véu. Preto. Quase desmaiei. Pelo menos usei o véu como óculos de sol. O sol é forte e o branco dói nas vistas.
Os homens usam roupa branca, chamada candura, bem mais fresquinha. Podem entrar com roupas ocidentais se quiserem.




Nossa guia trouxe abayas para todas as mulheres e apenas uma candura. Hélio foi o felizardo escolhido para bancar o sheik... e divertiu todo o "harém" com suas tiradas cômicas.



Sheik Zayed  soube usar a riqueza do petróleo para trazer para seu povo tudo de bom do resto do mundo. Acredito que hoje a cultura árabe esteja desaparecendo rapidamente. As lojas mais caras do mundo estão lá repletas de mulheres se abastecendo de perfume francês, chocolate belga e toda tipo de roupas de luxo e parafernália eletrônica.


Os árabes que me desculpem, mas prefiro minha cultura. Sufoco dentro dessas roupas.


Dentro de imensos prédios luxuosos, com ar condicionado, e de imensos shopping centers, encontra-se de aquário a pista de esqui. Ali estão as pessoas. As ruas, desertas. Embora estivesse mais fresquinho que aqui em Santos quando passei por lá. Não passou dos 30 graus.

Em uma das noites, vimos o espetáculo das águas dançantes, que começa às seis da tarde, vai repetindo a cada meia hora, sempre uma música e coreografia diferentes. Ao por do sol é tudo branco, e quando a noite cai a água ganha cores variadas. Gostei.



O país é o mais aberto das países árabes para os estrangeiros, que são 80% da população. A ciadadania é apenas para os locais. Quem nasce lá fica registrado na nacionalidade do pai, como, por exemplo, brasileiro 1, 2, 3... o número indica a geração nascida ali, mas não vira cidadão, não. Eterno infiel...



O deserto? Deserto. Literalmente. Sem nômades, sem tendas, sem caravanas. Só areia, mesmo, e um restaurante para turista - oferecendo dança egípcia, turca, passeio de camelo, tatuagens de hena feitas na hora, fotos com trajes árabes e sisha (que é como eles chamam o narguilé)

Vimos por acaso uma dança das tribos locais, dançada apenas por homens que fazem coreografia. Estavam inaugurando um restaurante e um grupo dançava na rua.



Yowalah - ou dança da vitória duas filas de homens levantando e abaixando seus bastões.

As tamaras são servidas ao entrar no hotel, acompanhadas de café turco no bule compridinho deles ? O café preparado com cardamono e servido sem açucar é muito bom, sem o amargor do café brasileiro.

Dica - compre tâmaras no supermercado são mais frescas, mais graúdas e mais saborosas que as compradas no aeroporto ou no mercado.

A comida árabe é deliciosa, queijos, coalhadas, pães, homus, arroz com legumes e o cordeiro que estou comendo aí na foto ao lado da Aninha.





 É conhecer uma vez, não me encantei nem pretendo voltar, não.


Mas me inspirei para escrever esta crônica:

O sonho de um árabe

Seu povo morava em tendas, andava de camelos e ele acordou milionário.
Em 1971, Sheik Zayed bin Sultan Al - Nahyan, muçulmano piedoso, desejou que Saint- Exupéry estivesse vivo para reescrever o capítulo de Terra dos Homens em que um árabe, olhando uma fonte perene, pergunta “porque o deus dos franceses ama mais os franceses do que o deus dos árabes ama os árabes”.
- Como se vê -  comentou o arcanjo Gabriel, servindo-se de uma tâmara – a riqueza sempre esteve embaixo de seus pés o tempo todo.
- Com esta riqueza vou comprar mais do que água – riu Zayed, feliz – Vou comprar os serviços dos maiores especialistas do mundo. Construir prédios com ar condicionado para o povo. Abrir escolas. Até o filho do mais humilde tratador de camelos desta terra receberá instrução. Vou abrir as portas do mundo árabe para os estrangeiros. Será bom para outros países, também. Muitos desempregados ficarão felizes em limpar nossas ruas e esfregar nossas vidraças. Os árabes todos serão patrões.
Gabriel engasgou-se com sua tâmara. Sheik Zayed apressou-se em oferecer-lhe outra xícara de café com cardamomo.
- Aquele outro profeta, Jesus, disse que “quem não está contra mim...”. Somos todos descendentes de Lucy, não é mesmo, arcanjo?
Gabriel riu.
- Zayed, você é sábio. Um visionário.
- Todos os povos podem viver pacificamente respeitando-se uns aos outros. Eu não quebrei nenhuma imagem de Buda e espero que eles não entrem em minha mesquita sem os trajes adequados.
- Que mesquita?
- A Grande Mesquita que vou construir, tão bela quanto o Taj Mahal.
- E como vai chamar a mesquita? – gaguejou Gabriel.
- A Grande Mesquita, simplesmente. Isso diz tudo, não?
“Ele é generoso sem ser vaidoso”- pensou Gabriel.
- Unidos seremos uma forte nação. Jogaremos os jogo das nações conforme as regras ocidentais. Nada temos a perder. São eles que precisam de nosso petróleo. Todos ganharemos com o que eles chamam de “progresso”.
- Sheik, senti uma ponta de ironia em seu discurso. Como quando falou de Lucy, o fóssil que muitos antropólogos consideram ser o ancestral comum da humanidade.
- O progresso nunca esteve em coisas materiais, Paz e amor são tão valiosos hoje como nos tempos do profeta Mahommed. Allah seja louvado.
Distraído, o arcanjo Gabriel quase exclamou Shalom ao invés de Salam.
A hora da prece se aproximava. Sheik Zayed acordaria e Gabriel deixaria seu sono.
- Antes de partir, Gabriel, leve os meus agradecimentos a Allah e peça-lhe que ilumine meu entendimento para a realização do mais caro sonho de meu coração.
- A Grande Mesquita, sei.
- Não, Gabriel! Meu grande sonho é transformar o deserto em um jardim. Se tirarmos o sal da água do mar e estendermos quilômetros de canos gotejando sobre o solo...
O muezim chamava, o sheik acordou e Gabriel começou a preocupar-se com as consequências geradas no planeta pela dessalinização do mar – como isso afetaria o clima global, as correntes oceânicas, a fauna e a flora do golfo de Oman? Como se não bastasse a trapalhada que era ser intermediário do Altíssimo para três diferentes credos...
Os sonhos de Sheik Zayed hoje são realidade.
Mais do que um árabe a mais no deserto, Sheik Zayed foi um homem no planeta Terra, o lar comum de todos nós.

O grande feito do sheik, a meu ver, foi a capacidade de enxergar, para além do mundo árabe, o ser humano, merecedor de respeito, qualquer que seja sua fé, sua língua, seus costumes.





Um comentário:

maria teresa disse...

adorei estas fotos, tu de árabe estás demais, gostei dos comentários, obrigada