domingo, 6 de julho de 2014

Turismo cultural - alguns artistas portugueses.

Dois desassossegados escritores portugueses.

Um ser plural e fascinante - Fernando Antonio Nogueira Pessoa.

Livro do desassossego, Fernando Pessoa: (heterônimo Bernardo soares)
Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos – a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo.”








 

A Casa de Fernando Pessoa, a última morada do poeta, hoje Museu, guarda lá o seu úlitmo quarto com seus objetos pessoais: a máquina de escrever, o baú, o chapéu, um retrato para o qual ele pousou, um mapa estral.
A excelente biblioteca do autor, outra biblioteca com obras da autoria e sobre o autor, salas de vídeo com atividades até para crianças e bem interessantes, salas de conferências, um restaurante, o Flagrante Delito. Uma parte da beblioteca é dedicada a projetos de 'pequenas pessoas' , ou seja , os miúdos. À saída, na loja, podem ser adquiridos livros em edições modernas e as usuais lembrancinhas. A decoração da casa é caprichada, de bom gosto e bem humorada.
À entrada, pisamos no mapa astral de Fernando, e vemos alusões a seus heterônimos nas paredes.

Vamos às informações colhidas na casa:

Nasceu em Lisboa, no dia de Santo Antonio, 13 de junho de 1888, filho de Joaquim de Seabra Pessoa e Maria Madalena Pinheiro Nogueira.
Ficou órfão de pai aos cinco anos. No mesmo ano morreram de tuberculose seu pai e seu irmão Jorge.
Em 1895, sua mãe casa-se com o cônsul de Portugal em Durban (África do Sul) por procuração e segue com o filho, que lá ficará pelos próximos dez anos, excelente aluno, tão bom que em 1903, no exame de admissão à Universidade do Cabo, ganhou o prêmio Rainha Vitória para o melhor ensaio em inglês. Tem uma meia irmã chamada Henriqueta Madalena Nogueira Rosa Dias.
Regressa a Lisboa em 1905, sozinho, para cursar Letras, pensando em seguir carreira consular, tendo abandonado os estudos em poucos meses. Trabalhou como correspondente comercial de língua inglesa e francesa em várias firmas e tentou, sem sucesso, estabelecer-se como empresário. Enquanto escrevia foi-se mantendo como jornalista, crítico literário, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário. Viveu em 16 casas diferentes, a última esta que foi mantida com seu nome.
Conhece-se um único romance seu, com Ofélia Queiroz, em duas fases: em 1920, e de 1929 a 1931, restando a abundante correspondência trocada pelo casal.
A originalidade de sua obra desenvolveu-se em torno de seus heterônimos. Aos seis anos de idade Fernando criou seu primeiro amigo imaginário, Chevalier de Pas, através do qual escrevia cartas para si mesmo; em sua juventude criou Charles Robert e Alexander Search, até o dia em que Pessoa diz terem surgido seus três princiapis heterônimos, 8 de março de 1914. Cada um dotado de biografia, posição política e religiosa, distintos estilos literários e aspectos físicos diferenciados. Há um semi-heterônimo, assim chamado porque sua personalidade era muito parecida com a do poeta: Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros, e que escreveu o Livro do Desassossego, publicado em 1982.
A este universo heteronímico composto pelo poeta da natureza, Caiero, pelo neoclassicista Resi e pelo modernista Campos, ajunte-se um detetive, um frade, um filósof, vários tradutores, um fidalgo suicida, uma mulher corcunda pela tuberculose e o astrólogo Rafael Baldaya, que também era ocultista. Pessoa caracteriza seu projeto literário como 'um drama em gente' e cultivou a 'arte do fingimento', dizendo sentir com a imaginação.
Em 1914 na revista de arte Athena, ele dá a conhecer Ricardo Reis, com vinte Odes. No úlitmo número desta revista sairia também O guardador de rebahos.
Em 1915 publicou 2 números da revista Orpheu, em que publicou a peça Os Marinheiros e os poemas Chuva Oblíqua, e onde apresentou Ávaro de Campos. Foram seus colaboradores na empreitada: Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros, Armando Cortes Rodrigues, Luís de Montalvor, Ronald de Carvalho e alfredo Guisado.
Em 1927, em Coimbra, a revista Presença passaria a publicar poemas e prosas de Pessoa.
De 1929 a 1932, Bernardo Soares surge em público e assina onze trechos do Livro do Desassossego.
O único livro que Fernando publicou em português foi Mensagem, em 1934. Com este livro concorreu  ao Prêmio Antero de Quental e ganhou um galardão de segunda categoria.
Morreu a 30 de novembro de 1935, em Lisboa, provavelmente de pancreatite aguda.
Suas última palavras foram escritas em inglês: 'não sei o que me trará o amahã'.
Foi sepultado no cemitério dos Prazeres e, em 1985, seus restos mortais foram transferidos para o Mosteiro dos Jerônimos.

Seu legado: 30 mil papéis originais, datilografados ou manuscritos, em cadernos, agendas, papel timbrado dos lugares em que trabalhou, guardanapos dos bares que frequentou, e outras folhas soltas, inéditos a maior parte, na data de seu falecimento.

trecho de carta enviada a Adolfo Casais Monteiro, em 13 de janeiro de 1935:
"Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à idéia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (nào no estilo de Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade) e abandonei o caso. Esboçava-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (tinha nascido, sem que eu o soubesse, o Ricardo Reis)...
Anos e meio ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá Carneiro, de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já não me lembro como, em uma espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegiu. Num dia em que finalmente desistira, foi em 8 de março de 1914, acerquei-me de uma comoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevei trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase, cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal de minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título: O guardador de rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caieiro... E tanto assim que, escritos que foram estes trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa...
Aparecido Alberto Caieiro, tratei logo de descobrir, instintiva e subconscientemente uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque, nessa altura, já o via. E, de repente, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jato, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triumfal de Álvaro de Campos - a ode com esse nome e o homem com o nome que tem."

A partir do estudo do espólio literário, sabe-se que a descrição não corresponde à realidade, já que os citados poemas foram escritos em datas distintas. Apesar disso, a comoda alta surge-nos como um ícone, ou logos de sua escrita heteronímica, lugar de memória do espaço habitado pelo poeta, o universo pessoniano.
Esta comoda, que está no quarto do poeta, chamada a comoda dos inéditos, é uma peça simbólica do espólio do poeta, pois nos remete a vivências há muito esmaecidas e nos permite uma aproximação à sua intimidade. Sua irmã manteve o móvel intacto, tal como herdado, apesar de ter menor categoria estética. 

fonte:
Rua Coelho da Rocha 16, Campo do Ourique, Lisboa.


Mais que um escritor, uma referência moral para o mundo: José Saramago.

"Escrevo para desassossegar meus leitores"
José Saramago, apresentado seu romance Caim.

A Fundação José Saramago está atualmente na Casa dos Bicos. Esta casa, construída em 1523 tendo por modelo o Palácio dos Diamantes, em Ferrara, não foi entendida pelos lisboetas, que viram em suas pontas não diamantes mas simples bicos de pedra, e assim ficou apelidada desde então. A Fundação surgiu porque pessoas de diversos países se empenharam em manter a ação cívica e política deste escritor, que transcendeu o âmbito literário para tornar-se uma referência moral em todo o mundo.

Nasceu em 16 de novembro de 1922, na aldeia de Azinhaga, no Ribatejo.
Este dia, 16 de novembro, é atualmente conhecido como Dia do Desassossego, e nessa data a Fundação convida o povo a ler nas ruas trechos da obra do escritor, para desassossegar os apáticos, pois dizia o autor: "Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem idéias, não vamos a parte alguma"

Filho e neto de camponeses, José Saramago veio para Lisboa com um ano, não pode prosseguir os estudos secundários e foi trabalhar como serralheiro, mecânico, funcionário de saúde, tradutor, editor, jornalista. Foi crítico literário da revista Seara Nova e comentador político no Diário de Lisboa.
Em 1947 publicou seu primeiro romance, Terra do Pecado.
Fica 12 anos sem publicar, pertenceu à primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores e a partir de 1976 passa a viver exclusivamente de seu trabalho literário.
Casou-se com Pilar del Rio em 1988, mesmo ano em que recebeu o Nobel; e a partir de 1993 repartiu seu tempo entre Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias.
Faleceu em 18 de junho de 2010.

Sua obra é forte, seus textos tem forte cunho político, muitas vezes polêmicos, mas sempre humanitários.
Autor engajado, que nunca ocultou sua militância comunista, projetou mundialmente o seu trabalho e sua figura pública em defesa da liberdade, dos direitos humanos, da inclusão social, imbuído de valores e ideais suscetíveis de construir outra realidade, mais justa, mais humana. Agiu como intelectual inconformista, envolvido nas questões palpitantes de seu tempo.

Exemplos nos trechos abaixo:

"Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a satisfazer as necessidades de uma humanidade que está a morrer de fome e de tudo, que humanidade é esta?'
- em entrevista, Las Palmas, 1994

"A nossa grande tarefa está em conseguirmo-nos tornar mais humanos. Marx e Engels, num livro intitulado A Sagrada Família, têm uma frase que é essencial por em prática 'Se o homem é formado pelas circunstâncias, então é preciso formar as circunstâncias humanamente'. "
1999



fonte:
www.josesaramago.org
Rua dos Bacalhoeiros - Casa dos Bicos
Lisboa


Um fotógrafo: Artur Pastor.
(1922 - 1999)

O 'poeta da fotografia' deixou um imenso legado. Suas fotos invadiam todos os recantos de sua casa, em pacotes primorosamente embalados. Sua vida foi pautada pelo perfeccionismo, na fotografia e em outras tarefas.
Capturou em preto e branco imagens do cotidiano: pescadores, atividades à beira-mar, atividades agrícolas, das tarefas artesanais ao uso das máquinas. Aposta na dignidade de seus modelos, sem nunca cair no miserabilismo ou na denúncia social da pobreza.

Artur Arsênio Bento Pastro nasceu em Alter do Chão. Passa a infância em Évora e inicia o curso de milicianos em Tavira.
Durante a vida participou de várias exposições, salões fotográficos internacionais e publicações variadas: algumas de suas fotos foram publicadas no jornal The Times.
Com a evolução da tecnologia, Artur Pastor adaptou-se ao progresso, e, no uso de uma câmara digital, já aos 70 anos,registrou o patrimônio arquitetônico do seu país.
Morreu em Lisboa em 1999.
 A família do artista vendeu seu acervo para a prefeitura de Lisboa, após sua morte.

fonte:
arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/...de.../artur-pastor
A força política da imagem: João Abel Manta.

Nascido em 1928, filho da pintora Maria Clementina de Moura e do pintor Abel Manta, formou-se em arquitetura. Sua obra abrangeu várias áreas, como desenho, pintura, cerâmica, mas foi como cartunista que ele se destacou.
É por muitos considerado como o artista que melhor interpretou a Revolução dos Cravos.
Desde cedo tinha idéias anti-facistas, foi preso político na juventude, e processado em 1972 devido a um poster Festival onde a bandeira portuguesa ironizava o nacional cançonetismo. Seu desenho, de alta qualidade, geralmente preto e branco, o que favorecia um certo humor negro, lembrava antigas iluminuras, pelo rigoroso contorno a traço grosso.
Trabalhou em O jornal, que editou em 1978 um álbum denominado Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar, onde aparece a obra de João Abel Manta, que denuncia de forma sutil, profundamente irônica e satírica o estertor do Estado Novo e os primeiros anos decorrentes da Revolução dos Cravos.
Desencantado como as contradições e o esmorecer das promessas de abril, o autro abandonou o cartoon a partir de 1976, justificando:

"a caricatura é extremamente eficaz para destruir qualquer coisa, mas já é difícil fazer com que ela contribua positivamente para construir outra".
A partir daí dedicou-se sobretudo à pintura.



fonte:
http://www.lisboapatrimoniocultural.pt/artepublica/azulejaria/autores/Paginas/Joao-Abel-Manta.aspx















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