domingo, 8 de junho de 2014

2014 - França - Provence


(crédito das fotos: Fernanda Rodrigues Vieira e eu )


Região maravilhosa, a Provence é um modo de vida.
Cidades cheirosas, luminosidade indiscritível, cores deslumbrantes.
Todas as cidades de Provence tem um dia de mercado (é a nossa feira, institução medieval maravilhosa, onde você via ver os produtos locais e também algum artesanato mais barato que nas lojinhas, tipo metade do preço) O mercado funciona só pela manhã, mas a manhã para eles começa às 9 e termina às 3, então não precisa sair correndo, dá até para almoçar em uma cidade e chegar na outra a tempo de pegar o mercado da segunda cidade aberta)
Outra coisa peculiar é que todas tem um carrossel, daqueles de cavalinhos, alguns com 2 andares, mas sempre cheios de crianças pequenas e seus pais, ao lado da praça central e da inevitável igrejinha (gótica, renascentista ou medieval)

Pedíamos um pichet de vinho ao jantar (uma jarra com o vinho local) ou soda bretã, que não é da região mas é francesa e deliciosa em dias de calor.
O café é que deixa muito a desejar, em todos os locais que visitamos - é muito forte ou aguado, o café com leite pode ser um café com uma espuma de leite por cima, o capuccino pode ser o que nós chamamos de café com leite, ou algo indefinível, eu preferi ficar nos chocolates quentes, era mais seguro, enquanto a Fernanda ia me contando o que vinha na chícara dela, que era sempre uma surpresa....só uma vez eu pedi chocolate e vieram : uma chícara de chocolate concentrado e um bulinho de leite quente para diluir (quando vi o bulinho gelei, pensando ser aquele leite gelado que os ingleses tem mania de servir, mas era quente, que bom).
É a região de comidas feitas à base de flores. Comi doces diversos, como calisson e guimauve, feitos com violeta, verbena e lavanda.

Avignon

Fomos de trem, bem confortáveis.
Ficamos no Isis Budget Centre - 8 Boulevard Dominique
Hotel simples, próprio para mochileiros, bem situado, do lado de fora da muralha, pela qual passavamos todos os dias em frente a uma placa que dizia 'Tous ensemble' e era ilustrada com umas ilustrações de pessoas, bicicletas, carros, e queria dizer isso mesmo: entrem todos juntos e seja o que Deus quiser...


Em vinte minutos andando estavamos no palácio dos papas, em mais 10 minutos na famosa ponte.
Lá passamos por um mendigo bem original, que nos assustou no primeiro dia pois estava sentado junto a uma vaca. No momento em que passamos, a vaca se mexeu e ouvimos um 'muuu' até repararmos que: a vaca era de pano, em tamanho natural, e que o mendigo a sacudiu por uma cordinha atada a seu pulso.








Imagino que as pessoas em Avignon se localizem assim: moro em tal portão, moro dentro / fora das muralha...




Fizemos de Avignon nosso ponto de dispersão, e daí passamos a excursionar, cada dia para uma ou mais cidades em Provence. Gostei da escolha, a cidade é pequena o suficiente para a gente não se perder, chegar sem correria à estação do trem ou saída dos onibus de excursões e, na volta, poder ir jantar com calma ao final do dia, geralmente na Praça do Relógio, bem central, rodeada por restaurantes e barzinhos.



Tomavamos café em um lugar tranquilo, gostoso, que abria às 8 enquanto os outros ainda estavam fechados, servia um café com leite bom e croissants crocantes, entre outras coisas boas.
Visitamos:


O Palácio dos Papas - que no momento estava sendo enfeitado com rosas para a comemoração da Ascensão de Nossa Senhora. Infelizmente eles usam o palácio para expor quadros de artistas modernos, o que, na minha opinião, descaracteriza totalmente o prédio, que é medieval. De lá de dentro temos bela vista da cidade, e, pelas ameias exteriores, podemos ver a catedral de Nossa Senhora do Dom, que fica ao lado, sobre o rochedo de mesmo nome, um excelente mirante.
A ponte Saint- Bénezet, mais conhecida como ponte de Avignon.



Há um passeio gratuito, bem interessante, de barco, pelo Ródano, até a outra margem - sai a cada 15 minutos; você ê a cidade pela outra margem e passeia um pouco mais; é muito usado por ciclistas, pois do outro lado há uma excelente ciclovia (pas pour tous...)



A torre de Filipe, o Belo - controla o acesso à ponte, é baratinho.
Igreja Gótica Notre Dame, com claustro, entrada franca.

                

Há outras igrejas, jardins e museus, se você tiver mais tempo e interesse. Há um Avignon Passion - um passe que dá direito a descontos progressivos nos monumentos visitados, no nosso caso, recebemos um desconto para uma excursão que agendamos no Centro de Turismo, que abre só às 9 horas e no domingo às 10 (então, se você quiser fazer uma excursão no domingo, tem de deixar agendada no sábado!)


Arles



Quando fizer Arles, faça junto Saint-Rémy  - pode pegar uma excursão ou ir de trem de Avignon para Arles, de onibus para Saint Rémy e voltando de trem para Avignon. É melhor ir de excursão, como descobrimos depois, pois os horários dos trens são desconexos, acabamos perdendo Saint Rémy e fomos direto a Arles, pensando que era uma cidade maior - ledo engano, em 3 horas fizemos tudo, apesar de o pessoal do turismo afirmar que estava havendo uma grande exposição da Fundação Van Gogh naquele dia.


Arles é uma cidade deliciosa de se andar, cheia de ruelas frescas (estava muito quente neste dia).
A praça central tem casa curiosas, de fachada de madeira enfeitadas com traves enviesadas, e parecem meio tortas.
As ruas tem um sistema interessante para conter o trânsito - há no meio das ruas pequenos postes de uns 60 cm que impedem a circulação dos carros, mas se abaixam para deixar os ônibus passarem!

Logo na entrada há uma estátua em frente à famosa Arena, bem conservada; depois fomos até o teatro, bem destruidinho, mas dá para ter uma idéia do esplendor de outrora. Infelizmente, estava todo cheio de arquibancadas para apresentação de espetáculos culturais locais, então as fotos estavam fora de questão, e as visitas seriamente comprometidas. (diga-se o mesmo do palácio dos papas em Avignon)

Thermas de Constatino - ruínas romanas, onde soubemos que a água do Ródano era utilizada para os banhos, passando por um sistema de aquecimento gradativo em fornos externos; aquecida, a água era canalizada e distribuída de forma a fornecer banhos em 3 diferentes temperaturas nas diversas piscinas termais. Se tiver templo, há jardins, museus e outras romanidades para visitar. 
Quanto ao caminho de Van Goh, ele decepciona - no hospital onde ele esteve internado há hoje um centro cultural, onde estão expostas cópias de 2 quadros que ele pintou no local - o jardim é mantido como era, para fazer juz ao quadro; a fundação Van Gogh estava em Arles neste dia com uma exposição da qual constava 6 quadros do autor e várias gravuras dos autores japoneses que ele admirava. Foi meio que anti-climax, pois eu fui seca para ver o tal caminho de Van Gogh!

Pegamos um excursão em Avignon que se denomina the Best of Provence e vai para as seguintes cidades:
PONT DU GARD - LES BAUX DE PROVENCE - SAINT RÉMY DE PROVENCE (arrêt photo) - ROUSSILLON - GORDES - ABBAYE DE SÉNANQUE - FONTAINE DE VAUCLUSE

Saint Rémy de Provence:

Para sorte nossa, que não havíamos ido a Saint Rémy, o motorista não fez apenas a parada para fotos, mas entrou na cidade e nos deu 15 minutos para circular por lá: é minúscula, circular, encantadora!

fonte homenageando Nostradamus, que nasceu em Saint-Rémy

 Ainda consegui fazer umas comprinhas, de coisas que já tinha em mente comprar e achei bem mais barato por lá. Na saída, há o hospício onde Van gogh foi internado, onde passamos bem rápido, vimos por fora mas não paramos para fotos. O  Monastery of Saint Paul Mausole é hoje usado como hospital psiquiátrico, e se você quiser fazer um passeio pelos caminhos por onde o pintor andou, tem uma excursão específica para isso, e pelo que sei, o quarto onde ele ficou é uma montagem, e os caminhos nem existem mais. Como ele viveu em e diferentes países e em 37 diferentes casas, a história dele ficou pulverizada.


L'isle sur la Sorge




Passamos por lá a caminho da próxima cidade - bonita, sobre o rio Sorge, que serpenteia pela cidade.
O som das águas por todas estas cidades cheias de fontes e rios é relaxante. Bem como o som dos campanários dessas igrejas antigas.

Fontain-de-Vaucluse



é um vale maravilhoso, e passamos rapidinho só para admirar os montes Vaucluse e Ventoux, e a água que flui pela cidade toda em sons refrescantes.
A cidade  é um local bem bonito, cheio de canais, com rodas d'água. As rodas d' água estavam cheias de algas imensas presas em suas rodas.  Tem um castelo sobre um rochedo em posição maravilhosa, as rochas e as árvres em volta fazem você ter vontade de pintar a paisagem. Pintar, não tirar fotos. 




  rio embaixo, paredão de pedras no alto...tudo lindo.


Roussilon

Esta região é de terra argilosa, rica em ferro, de onde se tira a matéria prima das tintas ocres, o chamado Maciço de Luberon.
O passeio principal é atrevessar tortuosos caminhos e pontes em meio a escarpadas rochas de todos os tons entre o vermelho e o amarelo, em pleno sol, há alguns atalhos por meio de carvalhos também, um mirante -  é bem grande o 'sentier dos ocres', e eles tem para vender o pó para você levar para casa e fazer suas próprias tintas, como os artistas antigos faziam...um luxo.




Há a local de manufatura de tintas para ser visitada - o conservatoire des ocres -  no dia em que fomos estava fechada, uma pena.

A cidade é feita de casas vermelhas, ou beges, ou laranjas, ou castanhas, ou... já entendeu, em qualque tom parecido com ocre, pois conforme o tempo passa e conforme as chuvas caem, as cores vão mudando. O resultado é uma sensação quente.


Nîmes


Nem acredito que não coloquei esta cidade em meu percurso, e só fui la porque a excursão passava por ali.
Foi a cidade que mais me agradou. Era tão bonito que os romanos e chamavam de segunda Roma.

 a fonte Pradier.

À entrada da cidade há um monumento mais recente, completamente laico, a fonte Pradier (este é o nome do escultor), e que representa a cidade e seus quatro mananciais, entre eles o rio Ródano. O aspecto da estátua engana, porque parecem seres mitológicos.
Na verdade, não são ruínas romanas, eu diria que são monumentos romanos inteiros, só faltam os romanos, e se você for na sessão de cinema deles, nem os romanos vão faltar!
Tudo está muito bem preservado, e a cidade original era enorme!

em frente ao anfiteatro, que por algum tempo foi utilizado para touradas, está a estátua de um toureiro famoso, o Nimeño II.

No Jardim de la Fontaine há diversas estátuas bem conservadas e a caminhada é bem longa.
Em 3 horas dá para visitar todos os monumentos romanos, andar pelo jardim e visitar dois museus, além de almoçar com tranquilidade.
     

Comi o doce mais delicioso de minha vida em um lugar chamado L'arbousier, que servia comida libanesa - a gente estava meio cansada de crêpes, croque-monsieurs e comida italiana (que é o que se pede quando se está com fome, já que a comida francesa é cara, leve e as porções são insuficientes para a minha fome de sete horas de caminhada diárias). O banheiro deste local também era charmoso, com flores cheirosas e vasos artisticamente arranjados pelas paredes. Fora que ali compramos também guimauve (é o nome de uma planta de onde se extrai uma goma deliciosa) de vários sabores, entre eles violeta.
Atualmente é vendido por aí uma coisa artificial feita de açucar e sem a planta original, que todo mundo conhece como 'marshmallow'.
Mas em França você come o guimauve original, feito com a planta.



Há dois museus gratuitos em Nîmes que mostram coisas da cidade: o de arqueologia, com peças variadas retiradas das escavações arqueológicas locais em Gard, por exemplo. O museu dos costumes mostra a tradiçao na fabricação de tecidos, como a seda e o brim (denim) que era aí fabricado e exportado.
É também a cidade onde nasceu Guiseppe Garibaldi.

Pont du Gard

A atração principal é o viaduto, que levava água de Uzés para Nîmes, por um desnível de cerca de 30
metros no terreno.


A caminho do viaduto, repare nas árvores - há aqui oliveiras de cerca de 500 anos. 
O nome do rio é Gardon, e, como em muitas cidades da região, você encontra pela cidade placas com dois nomes, um em francês e outro em provençal.


         
  Ainda há pessoas na faixa dos 80 que falam (e transmitem a seus filhos e netos) o provençal, a língua está viva ainda.

O local é bem maior do que eu supunha, e tem mais atrações do que o viaduto: tem cinema, museu, lojas, restaurantes, sorveterias, praias fluviais com direito a passeios de barco, calçadões com pistas para caminhada e ciclismo.


Gordes
Aí visitamos a cidade alta, em volta do rochedo, e vista linda.
A Village des Bourries - são casinhas feitas em pedra pelas populações antigas, dizem que são anteriores a Cristo, e que foram abandonadas no século XIX, sendo usadas hoje como depósito vegetais e animais.

Ainda hoje o aspecto medieval se mantém porque há certas regras: todo cabeamento é por subsolo, e a aparência das casas deve ser parede de pedra e telhado de terracota, não sendo permitido o uso de cercas ou portões modernos, para não descaracterizar a região como atração turística.

Aix-en Provence


A maior cidade da região, com muitas linhas de trens e onibus disponíveis, e preços bem acima dos encontrados nas outras cidades da região. Eu não a escolheria para meu ponto de partida, pois é muito urbana, preferi Avignon, que também dispõe de trens e pode ser cruzada a pé meia hora.
A vedete da cidade e Cours Mirabeau, pintada por Cézanne, arborizada por estranhas árvores de casca branca e poucas folhas, talvez tivessem sido podadas redentemente, a avenida é grande, linda, porém fugi dela porque chegamos depois do almoço em um dia muito quente e aí se ficava exposto diretamente ao sol.

Não se consegue ver o Monte Saint Victoire da cidade, tem-se vista parcial dos locais mais altos, o monte é melhor vista da estrada.
Esse monte era um tema preferido do pintor Cézanne.
Esta é uma cidade cheia de artistas, atuais e antigos, procure o seu preferido para acompanhar.
O caminho de Cézanne, que me foi proposto, é longo e sem grande interesse a não ser aos estudantes de arte ou aficcionados pelo pintor.
O escritório de turismo local oferece um passeio combinado a 3 locais com quadros de Cézanne, em um trenzinho aberto, em agradável, que poupa tempo e dinheiro ao turista.
Estou sentada no jardim do atelier de Cezanne, bem alto, em local lindo, fresco e agradável.

Se tiver pouco tempo, estiver a pé e quiser ver o atelier de Cézanne, pegue um ônibus. O caminho é longo, ladeira acima, sem nada interessante no percurso e o calor que fazia retardou nossa marcha. Lá encontramos a última casa do autor, onde ele construiu seu local de trabalho do jeito que queria, com um amplo janelão, bem no meio de uma grande área verde, e seus objetos de pintura estão por lá.
Há muitos outros museus em Aix, mas o encanto das pequenas cidades charmosas está ausente.

A, para finalizar, a estátua de Cezanne, bem no centro da cidade:

Les beaux de Provence

Fazem parte dos Alpes provençais, são montanhas de pedras sem grande interesse em si mesma, depois de se ter visto outras cidadezinhas encravadas na pedra, com seu respectivo castelinho.



Havia multidões de gente entupindo as estradas, congestionando os estacionamentos, no dia em que fomos lá.
Em Beaux está um programa todo especial, e você precisa reservar o dia para isso, pois é longe, as filas são gigantes e a visita demorada: é o Carrières des Lumières, espetáculos feitos nos espaços entre as pedras, como cinemas, espetáculos variados e exposições de pinturas, tudo muito fresquinho por estar à sombra das pedras, mas é preciso agendar com antecedência, comprar pelo site, pois as filas são gigantescas.
Por mim, a não ser pelos espetáculos, não iria até ali.


Abadia de Sénanque

A gente só viu da estrada, lá do alto, fica em uma vale profundo, depois passamos em frente a caminha da próxima cidade.
Aí eles cultivam as lavandinas, que pudemos ver, estavam no início da florada.Não confundir com lavandas.
Há duas plantas parecidas nesta região - a lavanda, de onde se extrai o delicioso perfume, e cujas plantas são cultivadas no meio a outras gramíneas, e a lavandine, de odor forte e de onde é retirado uma subsância detergente utilizada na extraçao da cânfora, e o cultivo da lavandina é feito em solo limpo, portanto entre as fileiras de lavandina só se vê cascalho.

Provence, enfim, é linda!
Ainda não fui a Luberon, a terra das plantações de lavanda, pois é só no mes próprio que se pode ver as plantações. Está na minha agenda.

Um comentário:

S.Piqueri disse...

Que viagem linda!!! Sou apaixonada pela França e por lavanda... Tô azulzinha de inveja rs rs rs